DC – Peacemaker – Virtudes do Pacificador superam falhas e James Gunn traz cores ao Universo DCEU

Não existem barreiras que James Gunn não vá quebrar, isso é um fato quando analisamos o quinto episódio da série. Nunca imaginei que eu ficaria satisfeito em ver uma crueldade contra animais, entretanto a cena de luta no ápice do episódio é incrível para dizer o mínimo. Acho que o realizador conseguiu um certo equilíbrio, pois as cenas de ação possuem seu charme, mas a história dos personagens é o que verdadeiramente importa. Cada vez mais conseguimos nos aproximar do protagonista e seus parceiros graças a um roteiro bem escrito.

Acredito que todos estavam com aquele sorriso de canto de boca quando a missão finalizou, pois era esse o sentimento que eles estavam passando, até mesmo a Harcourt que era mais “fria e calculista” se rendeu a essa família nada ortodoxa. Os minutos finais serve para lembramos que essa não será uma história ”felizes para sempre”, possuindo grandes chances de matar personagens que passamos a gostar. James Gunn prova que um planejamento é essencial para uma obra de qualidade.

Seja a série como um todo ou o personagem em si, é fato que “O Pacificador” possui mais virtudes que podíamos imaginar. Falemos primeiro da série, sinceramente eu não colocaria minha mão no fogo para essa produção. Pegaram o personagem menos provável do Esquadrão suicida e deram uma série para ele. Se fosse para apostar, eu diria que Arlequina, Sanguinário ou a Pega Ratos 2 teriam mais chances de ganhar uma produção do que o Pacificador, contudo que bom que James Gunn é mais visionário do que eu, pois não existe nada melhor na DC atualmente. Adoro que não tentaram suavizar o personagem, ele continua sendo o mesmo psicopata de sempre, não existem uma linha de diálogo que transforme o Chris em anti-herói. Por causa disso que a série consegue ser tão virtuosa, preocupando-se apenas com o que é necessário. Já o personagem consegue ter multicamadas que o tornam muito completo, novamente ele é um maluco cruel com todo o tipo de falhas de caráter, mas isso não é tudo sobre ele e graças a sua equipe essas nuances são aparentes. Seria um pouco triste se ele fosse superficial, porém o roteiro contribui para desenvolver seus dilemas e a atuação de Cena se prova muito acertada, nunca imaginei que iria elogiar tanto o ex-Wrestling.

Pela segunda vez nessa temporada o episódio possui uma estrutura simples. Após a descoberta de Adebayo, a equipe precisa se infiltrar em uma fábrica, enquanto isso a polícia está próxima de provar a inocência do pai do Pacificador. Eu odeio ser clichê, mas as vezes “menos é mais”. O fato de ser simples, direto e de proporções menores não é um demérito, principalmente quando se precisa visualizar o todo acima do individual. Com isso em mente saiba que esse não foi o melhor episódio da série, mas ele é muito competente no que está propondo, uma “roadtrip” da equipe de desajustados do Murn. Sim, a estrutura escolhida aqui desde a preparação até o retorno lembra uma viagem de campo qualquer, com a diferença da matança que vemos mais para frente. Eu gosto das coisas mais tresloucadas que os realizadores apresentaram, O Pacificador ser um bully eterno que ataca o Economos a cada dez segundos, ele trazer essa pegada do Glam Metal para equipe, conseguindo assim aproximá-los como uma família disfuncional e o fato de todos acabarem se apoiando independente do risco. Claro que tudo isso é misturado ao humor único da série, conseguindo por sua vez enraizar-se no público como obra singular, pois não existe nada no universo de heróis que seja parecido com Peacemaker.

Precisamos de produtos assim para que a temática não se sature, algo que saia da zona de conforto e experimente ousar em suas tramas. Então após conhecerem sua missão e embarcarem no trailer a equipe parte para a ação. Eu adoro cada segundo da interação da equipe, todos estão impecáveis em suas performances e trazem credibilidade para o público. Até mesmo algumas cenas “vergonha alheia’ acabam contribuindo para isso, pois o Pacificador é claramente uma sátira ambulante. Ele é exagerado, sempre fala a coisa errada, é violento e egoísta, mas não é apenas isso que o define. Durante a viagem já podemos notar isso e por poucos minutos achamos que ele é um cara normal, porém essa percepção desaparece quando ele estoura a cabeça da recepcionista. Claro que ela era uma borboleta, mas mesmo assim, estourar cabeças enquanto sua parceira de equipe está interrogando alguém é no mínimo apressado. As duas equipes começam a entrar na fábrica, Adebayo e Pacificador entram pela frente matando toda borboleta que aparece, enquanto Harcourt e o Vigilante vão pelos fundos de forma mais sorrateira.

A utilização do capacete de raio-X foi uma excelente ideia, você pega um elemento das HQs e utiliza aqui com propriedade. É um Easter egg, mas é bem inserido tendo utilidade o tempo inteiro. O Pacificador acaba obrigado a pensar rápido, pois dois membros do seu grupo estão sendo perseguidos pelas borboletas. Quando Chris observa a tentativa das criaturas de invadir a sala se segurança, ele não hesita em explodir a todos com uma bomba experimental. A cena é boa na mesma proporção que é engraçada, pois o herói não se preocupa com as consequências de seus atos. Ele poderia muito bem ter explodido a equipe inteira, já que ele não sabia qual era a potência do explosivo. Quando ele e a Adebayo entram na sala se deparam com a cena mais maluca do episódio, seus amigos estavam sendo atacados por um gorila enorme. A explicação é que as borboletas conseguem tomar o corpo de qualquer criatura, entretanto é impossível ver um gorila falante e não lembrar imediatamente do Grodd. Apenas os quatro não foram o suficiente para matar o gorila, Economos teve que sair do seu posto com a motosserra e salvar o Pacificador no último segundo. Devo admitir que eu sempre fico chateado quando um animal morre em uma produção, porém a forma como ele é morto é de cair o queixo, apenas numa série spin-off do Esquadrão Suicida poderíamos ver isso acontecer.

Após essa aventura maluca a equipe finalmente cria laços, finalmente o Chris pôde perdoar o Economos por incriminar se pai. Adebayo e o Vigilante acabam de conseguir respeito do restante da equipe e Harcourt larga um pouco as camadas protetoras que ela criou para sua personalidade de agente. Este é o momento que todos curtem, sejam os personagens ou o público que assiste, pois é o exato momento antes da tempestade, quando tudo parece que está dando certo, mas vai acabar dando tudo errado. No núcleo dos policiais não temos grandes avanços, apenas a descoberta que as digitais não batem, entretanto eles não conseguem inocentar o Dragão Branco. Uma figura misteriosa aparece para garantir a liberdade do Pacificador, descobrimos que este homem está em contato com Murn, provavelmente sendo também uma borboleta. Ele é ameaçador sem ter feito nada de relevante ainda, pode ser o verdadeiro vilão ou um aliado improvável, visto que existem elementos que sugerem que as borboletas são “mal interpretadas”.

O final serve para nos trazer de volta a realidade, para lembrarmos que nenhum deles está de fato seguro. A Adebayo está em conflito, isso acontece por ela ainda ter consciência de que manipular seus companheiros é errado, sua mãe, no entanto estaria muito orgulhosa do que a filha vem fazendo. Ela acaba voltando para a base por não conseguir lidar com a culpa, ela encontra o líder de equipe e ocorre a moça utilizar o capacete de raio-x do Pacificador. A sua animação some na mesma velocidade que apareceu, uma vez que ela descobre que o Murn era uma borboleta infiltrada. Ela até tenta lutar contra a criatura, mas é capturada logo em seguida. O próximo episódio promete trazer explicações, Murn poderia ter matado a novata imediatamente, porém tudo indica que ela foi apenas capturada. Agora a perspectiva dos vilões deve ser explorada mais profundamente.