Movies & SériesDC – Peacemaker – James Gunn consegue utilizar o Pacificador da forma mais bizarra possível

DC – Peacemaker – James Gunn consegue utilizar o Pacificador da forma mais bizarra possível

Por: Gustavo Tavares

O Pacificador é a mais nova obra do Universo Extendido da DC. Como de costume, James Gunn prova que consegue utilizar sua cabeça doentia para criar coisas incríveis. A série tem seus problemas e me faz rir por motivos muito errados, no entanto a obra está ficando cada vez mais densa com o passar dos episódios. O humor escrachado é um dos elementos que mais chamam a atenção, porém também há element

Primeiro de tudo devo dizer que sim, James Gunn é um cara perturbado. Ele pegou basicamente todas as piadas mais erradas e nos fez compactuar com ele quando esboçamos a menor sorriso. Para ser franco a maioria delas traz escondido críticas pesadas, que são bem contextualizadas e podem até passar despercebido por parte do público, porém se o contexto não estiver claro poderiam ser mal interpretadas. Pegamos o protagonista como exemplo, em vários momentos ele fala a coisa mais escrota do mundo, mas ele nunca passa certos limites e sempre existe uma conjuntura para não deixar o personagem antipático. Então sim, o Pacificador tenta ser um cara legal, ele realmente acha que o que ele faz é algo positivo, ele não se vê como um racista apesar de todos taxarem ele como tal, porém ele não passa de um psicopata à primeira vista.

Desse modo aos poucos vamos conhecendo ele, realmente existem algumas nuances que vão explicando o motivo do personagem ser assim. Ele ainda é sexista, de certo modo até mesmo misógino, mas racista é algo que fica mais evidente no pai do “herói” e não é algo que eu diria sobre ele. O Vigilante até levanta essa questão, dizendo que se você anda com um racista é por que você provavelmente é um, colocando o Pacificador em uma linha tênue, entre continuar buscando aprovação do pai merda que possui ou se livrar de vez do supremacista que moldou o filho para ser uma máquina de matar. Como eu disse, uma série com temas muito pesados, – e muito atuais nos EUA atualmente – porém consegue trazer leveza com seu humor exagerado e muitas das vezes politicamente incorreto.

ATENÇÃO: o conteúdo abaixo contém spoilers!

Agora a forma como você vai aproveitar o programa é exclusivamente sua, você pode concentrar-se apenas na parte mais supérflua e curtir bastante sabendo que aquilo é só “ficção” ou você conseguirá encontrar diversas mensagens críticas a atitudes que acontecem no mundo real. É bem evidente que o seriado quer abordar temas políticos, exatamente como o filme "O Esquadrão Suicida" fez, todavia, algumas pessoas vão optar por não absorver as mensagens que os realizadores querem passar e tudo bem com isso também, espero apenas que não deturpem o significado do que está sendo retratado. Tudo que eu mais quero ver em tela é a inversão de papeis, apresentando então o verdadeiro vilão do seriado, o ser mais abominável que existe na face da terra, o racista americano que se acha especial por causa da cor de sua pele. Não acho que a trama vai manter o “projeto Butterfly” como o principal antagonista, principalmente quando tivemos algumas dicas no quarto episódio. Também acho difícil que a apresentação do uniforme do White Dragon seja mero Easter Egg, aquela roupa será utilizada em algum momento com certeza. O elenco da série está sensacional, claro que existe aquele velho detalhe de Gunn contratar todos os amigos e parentes próximos, ele nunca foi de esconder que gosta de um nepotismo bem encaixado, porém até o momento não vimos seu irmão fazendo alguma ponta, acredito fortemente que ele ainda aparecerá.

Peacemaker: Suicide Squad

John Cena está conseguindo ser um excelente interprete, ele possui um tempo de comédia ótimo, suas cenas de ação são boas e ele consegue passar credibilidade mesmo usando aquele uniforme ridículo. A equipe da Amanda Waller também foi uma grata surpresa, claro que já havíamos visto alguns deles no filme, porém apenas aqui podemos conhecer eles mais profundamente. Jennifer Holland volta a papel como Emília Harcourt, aqui temos uma personagem mais centrada, uma assassina calculista e de certo modo interesse romântico do protagonista. A atriz consegue chamar a nossa atenção, principalmente quando está atuando junto do elenco de apoio, seus momentos com o herói são divertidos, mas não acho que sejam o ponto forte de sua performance. Chukwudi Iwuji e Steve Agee estão excelentes em seus papeis, o primeiro como líder sério revoltado com a incompetência da equipe, o segundo sendo um completo maluco, fracassado e incompetente, mas inteligente o suficiente para ser o TI da equipe. Finalizando a equipe temos a novata nesse grupo disfuncional, Danielle Brooks está incrível como a filha da Amanda Waller. Leota Adebayo e sua esposa estão conseguindo a afeição dos fãs – mesmo possuindo um tempo limitado de tela – e não é à toa, ambas possuem um carisma gigante. O roteiro trabalha bem a relação das duas, porém como uma amiga reparou, em diversos momentos o casamento das duas parece muito com relações hétero normativas, por isso parece que Gunn ao tentar trazer naturalidade para o casal LGBT acaba fazendo o oposto. Eagly, a águia me conquistou desde o primeiro momento, as vezes o CGI é aparente? Sim. As vezes não faz sentido a aparição do animal? Sim. Entretanto eu não assisto mais nenhum episódio se os realizadores matarem a ave. A maior surpresa para mim foi o Judô Master e o melhor amigo humano do Peacemaker, o Vigilante. O Vigilante é sensacional, extremamente engraçado com suas manias, seus medos e sua forma de ver o mundo. Já o Judô Master surpreende como um lutador implacável justamente pela sua altura, existem piadas feitas por ele ser pequeno, mas que são completamente infundadas quando ele dá uma surra nos dois melhores amigos, impagável.

Agora está na hora de abordar os spoilers pesados de cada capítulo específico, então aqueles que ainda não assistiram estejam avisados!

Primeiro episódio – Um Novo Turbilhão

O primeiro episódio faz o básico para nos reintroduzir nesse universo do James Gunn. Primeiro claro ele já faz a questão de mostrar a bunda do protagonista, para nos situar da galhofa que virá a frente. Então com alguns diálogos rápidos já começamos a rir dos absurdos abordados, eu adorei a participação do Jamal, me surpreende que ele ainda não tenha voltado a aparecer. Enfim o Pacificador vai para casa o mais rápido possível, acreditando estar livre da Força Tarefa X de uma vez por todas. Quando chega em casa ele é surpreendido pelos agentes da A.R.G.U.S. que volta a recrutar o assassino, temos então a nova equipe composta por Harcourt, Economos, Adebayo e Murn. Eles lembram perfeitamente que ainda tem uma bomba na cabeça do “herói” e que precisam dele para o “Projeto Butterfly”. A cena é boa e as piadas são ótimas, já que o Pacificador lembra que eles são péssimos em nomear as operações. “A última missão chamada de ‘Starfish’ acabou sendo uma estrela do mar gigante, se for lutar com borboletas gigantes eu preciso de no mínimo um jetpack”. Claramente só o James Gunn para conseguir tirar graça de um texto tão maluco. Ele sem opções resolve apenas buscar sua parceira Eagly na casa do seu pai. Aqui temos o personagem mais detestável que eu já vi na DC, o pai do Pacificador é simplesmente tudo que eu mais detesto. Supremacista, racista, homofóbico, americano conspiracionista, um completo neandertal sem escrúpulos. Mesmo assim ele serve a proposta do seriado, assim como ele também serviu nas HQs. De certo modo você passa a compreender os motivos do “herói” ser tão problemático, com um pai desses eu não sei quem conseguiria se transformar em um ser humano decente. Existe algumas piadas aqui que funcionam, principalmente quando você localiza a crítica que está sendo feita. Ao voltar a se reunir com a equipe, o “herói” comete diversas gafes principalmente ao se referir as pessoas, mostra como ele muito machista e só pensa em arrumar alguém disposto a fazer sexo com ele. Sua primeira tentativa é a parceira de equipe Harcourt, que surra um cara no bar oferecendo um exemplo de como as mulheres estão cansadas disso, após a sua recusa ele acaba encontrando uma alternativa no mesmo bar. A seguir acontece a coisa mais bizarra do capítulo, após se satisfazer sexualmente, o Pacificador - de guarda baixa - começa a dançar ao som de “I Don’t Love You Anymore” do “The Quireboys”, enquanto lança diversas das suas escatologias. Neste momento sua amante parte para cima dele com uma faca, acontecendo então uma luta alucinante no apartamento. Cena incrível nos moldes que Gunn sabe fazer, a ação é perfeita e bem dosada, não existem momentos confusos enquanto eles lutam até a morte, a música dá um toque a mais a tudo que estamos vendo em tela. O Pacificador só consegue sair dessa vivo após utilizar um de seus capacetes, explodindo completamente a garota.

Peacemaker Sims 4

Segundo episódio – Piores Amigos Para Sempre

O segundo capítulo em essência é bem mais simples que o anterior, tanto em estrutura quanto em narrativa. Tudo gira em torno dos parceiros de equipe livrarem a cara do Pacificador, já que ele fez justamente o oposto que deveria, colocando quase que um sinal tatuado no meio da cara dizendo que foi ele que fez aquilo. Sendo mais específico ele chama a Harcourt para auxiliá-lo, já que dá última vez que ele olhou a polícia já estava a caminho. Claro que Gunn não cansa de inserir diversas piadas de “humor Negro”, mas o que fica evidente aqui é que você não deve levar esse programa a sério. Claro que o primeiro episódio já passa um pouco isso, mas ver o protagonista deixando tudo a perder por causa de discos que está roubando? E pior, enquanto amarra os moradores da casa fica aquele clima entre ele e a esposa do morador. Não entendam mal, eu ri muito disso ao ponto de não acreditar no que eu estava vendo, porém eu não consigo mais ver seriedade no “herói’ quando está em cena, se houvesse tempo ele com certeza iria transar com a estranha que acabou de conhecer. Enquanto ele tenta fugir e se machuca em todos os obstáculos – provando que não é tão fácil fazer o que o Batman faz – eu só conseguia pensar em como ele se safaria, pois mesmo que a Harcourt conseguisse tira-lo de lá, seria fácil para a polícia descobrir a autoria do crime. Admito que não aguentei de tanto rir quando o Economos mudou o registro do carro do Pacificador. O fato dele ter colocado no nome do pai racista do “herói” foi genial, quando Murn começa a xingá-lo pelo erro absurdo que fez é impagável. Temos também a primeira interação entre o protagonista e o seu “melhor amigo humano”. Devo dizer que o Vigilante é uma das coisas mais insanas dessa série, acho que muitos vão odiar o personagem, – já que nas HQs era para ele ser uma contraparte do Frank Castle da DC – No entanto eu adorei cada cena dele. Claro que ele ainda é um mercenário impiedoso, mas a relação que ele tem com o protagonista é ótima. Para terminar de limpar a barra do Pacificador, Adebayo acaba tendo que ir subornar o casal que foi “sequestrado”. Não sei se foi proposital ou foi o acaso, porém quando ambos escolheram a foto do pai do Pacificador eu dei um surto de risos. A policial Sophie Song consegue então prender o pai do “herói” adorando cada momento. No fim descobrimos que os neonazistas simplesmente amam o Dragão Branco, claro por que não amariam né?

Peacemaker DC

Terceiro episódio – Melhor Morto

Após toda a aventura para impedir que seu “psicopata” fosse para cadeia, Murn coloca em prática a missão para que foram chamados. Eles precisam matar um senador que é favorável as mudanças climáticas e caso a família dele também sejam “borboletas”, todos precisarão ser eliminados. Só descobrimos a bizarrice das borboletas no final no episódio, mas não ficamos sem entretenimento no processo. Muitas piadas bem encaixadas e algumas nuances do protagonista são bem apresentadas, como o modo que ele trava quando precisa matar a família do senador ou como ele parece estar desenvolvendo uma paixão sincera pela parceira de missão. A aparição do Vigilante é ótima, ele serve novamente como mais um alívio cômico, porém também tem função fundamental quando o Pacificador trava. Ele pega o Fuzil de precisão para matar toda a família, mostrando que sim ele não é apenas um idiota. Ele consegue matar os filhos e a esposa do senador, mas é impedido pelo Judô Master quando ia executar o patriarca da família. A surra que segue é impressionante, o Judô Master com seu um metro e trinta vence sem dificuldade os dois brucutus. Chega a dar dó de como ele ataca violentamente, conseguindo ter um destaque que eu não podia imaginar. Depois de desacordá-los o segurança os leva para o porão da mansão, onde o Vigilante será torturado para o Pacificador abrir a boca. Aqui temos algumas construções interessantes, principalmente da Adebayo que não é fria como a mãe. Ela está longe de ser parecida com a Waller, quando precisa matar um segurança ela também trava. Por motivos distintos, tanto o psicopata do Pacificador quanto a novata da equipe não conseguem puxar o gatilho, não à toa eles se aproximam no episódio seguinte. Felizmente não é algo falado, apenas é uma constatação do líder do grupo que o Chris confia mais na moça. Dentro da mansão temos uma cena digna dos trapalhões, o vigilante sendo torturado e o senador apostando na “empatia” do cara que disse: “eu amo a paz, amo tanto que matarei homens, mulheres e crianças por ela”. Na parte de cima a equipe invade a casa, descobre a passagem secreta, arma uma bomba e no fim estoura bem na cara deles. Graças a distração da bomba o protagonista escapa e mata o senador com um belo tiro na cabeça. Neste momento descobrimos o motivo pelo nome do “Projeto Borboleta”. O Judo Master acaba sendo preso pelo mais improvável captor em outra cena hilariante.

Peacemaker

Quarto episódio – A Estrada Mais Paucorrida

O quarto episódio é de longe o melhor de toda a temporada até agora, sendo irônico o fato do capítulo ser o único, até o momento, dirigido por outro que não o James Gunn. Quem assina a direção é Jody Hill, que sinceramente nunca conheci nenhum trabalho pregresso. Tudo se inicia com eles lambendo as feridas e voltando para a base. Todos eles estão meio chocados com a revelação da borboleta, sabendo que a infestação da espécie está generalizada. O Pacificador acabou descobrindo a identidade do Vigilante, que está impagável ao tentar fingir que está bem com o amigo. Ele acha que o “herói” não estava se preocupando quando estava sendo torturado – E realmente não estava – e por isso tira o capítulo para cuspir algumas verdades na cara do assassino. Eu acredito que em algum momento o personagem será uma bússola moral para o Pacificador, pensei que utilizariam outra pessoa da equipe, porém todos eles não possuem uma moralidade bem definida. Ele descobre finalmente que Economos armou para o pai dele ser preso, por isso o Chris acaba se distanciando brevemente do time. Ele corre para visitar seu pai na prisão, apesar da Adebayo tentar convencê-lo do contrário e pela primeira vez temos o tema racismo sendo abordado de forma séria. Eu gosto muito desse trio, quero cada vez mais vê-los juntos, pois todos aqui têm capacidade para comédia intercalada com drama de modo surpreendente, se o Pacificador teve qualquer desenvolvimento foram graças a eles e um pouco do seu pai odioso. Ele entra na cadeia, conversa com o Dragão Branco e descobre que o pai dele irá chamar a detetive no momento que ele virar as costas. Um completo traíra que irá sacrificar o filho sem pensar duas vezes, neste episódio também temos algumas cenas muito bem colocadas, do Chris com seu irmão quando eram pequenos. Ambos foram treinados para serem assassinos, mas o irmão do Pacificador morreu e o pai coloca toda a culpa no filho mais novo. A Adebayo decide manipular o Vigilante, fazendo-o acreditar ser uma boa ideia entrar na cadeia e matar o pai do protagonista. Essa "missão" entra na cabeça do rapaz de forma tão intensa que ele não pensa duas vezes, entra na prisão tendo em seguidoa a melhor cena de toda o seriado. O Vigilante ensinando aos supremacistas a importância da cultura negra e dando uma surra nos racistas é a coisa mais linda que eu já vi. Claro que fica lindo em tela ver gente odiosa levando uma surra, mas como estratégia é algo bem idiota de se fazer, pois o Pacificador não irá aceitar a morte do pai facilmente, claro que no final, infelizmente, o maníaco continuou respirando, mas ele acha que foi um assassino enviado pelo filho. O final traz uma descoberta absurda, Murn agora é – ou sempre foi – um agente das borboletas infiltrado no grupo, como essas reviravoltas terão impacto na trama eu não sei dizer, mas acredito que no final o vilão da história será o Dragão Branco. Aquela aparição do uniforme não foi à toa, não iriam gastar dinheiro de produção para apenas entregar um easter egg, pelo menos eu assim espero.

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