Star Wars - The Book of Boba Fett - temporada 1: Série insiste em uma trama lenta, tendo um terceiro

É fato inegável que Boba possui uma legião de fãs, todos desejavam desesperadamente novas aventuras do caçador de recompensas, entretanto o seriado focado no personagem não está agradando o público alvo. Talvez seja uma precipitação, já que até o momento temos apenas três episódios, mas nenhum deles foi de fato excelente. Mandalorian conseguiu utilizar perfeitamente uma trama contagiante sem nunca transparecer uma lentidão maçante, apesar de possuir episódios fullers para preencher os oito episódios por temporada.

O Livro de Boba fett ainda não conseguiu ter a mesma qualidade que sua predecessora, a história contada está se arrastando em tela, algumas escolhas de roteiro e direção artística são questionáveis, os personagens do elenco de apoio ainda não cativaram o público e tudo parece estar levando a lugar nenhum. Em episódios anteriores eu consegui tirar o mínimo de entretenimento, porém não aconteceu com este daqui. O primeiro episódio teve um ritmo lento, mas era justificado por ser o piloto do seriado, o segundo episódio foi fascinante e de tirar o fôlego, no entanto o terceiro foi apenas chato, pouco inspirado e clichê.

Neste terceiro episódio os flashbacks que são recorrentes na série foram bem inúteis, definiram apenas que o povo da areia que salvaram o protagonista no deserto foram massacrados. Os algozes dos Tuskens foram a gangue do deserto que foi humilhada pelo caçador de recompensas no segundo capítulo. Dessa forma eles tentaram focar quase que exclusivamente no presente e eu achei isso um erro absurdo. Não é novidade que eu não goste desses flashbacks, acho que são uns dos motivos da trama demorar a engrenar, ganhar corpo e conseguir o apreço dos fãs, por conta disso o terceiro capítulo perdeu a chance de finalizar esse passado do personagem. Mais alguns minutos mostrando o anti-herói se vingando da gangue e podíamos ter deixado essa história paralela para trás. Meu maior receio que isso se arraste até o último capítulo da série, um pesadelo maior seria esses flashbacks tornando-se uma marca do programa como aconteceu em Arrow.

Já no presente não houve nada de muito relevante, podem ser que alguns conceitos apresentados acabem agradando até o final da série? Claro que podem, mas ainda não temos todas as informações para dizer que vão conquistar o fandom de Star Wars. Eu realmente gostei dos novos personagens, parecem ser muito interessantes e suas “melhorias” podem servir muito bem a narrativa, ajudando o Boba a consolidar-se como Daimyo, todavia a estética escolhida para os personagens é no mínimo esquisita. Aquele estilo de gangue de motociclistas punks é muito deslocado, faria sentido essas escolhas se eles vivessem em outro planeta, que possuísse uma metrópole mais cyberpunk tipo Coruscant, eles serem moradores de Tatooine ataca a verossimilhança frontalmente. Eu realmente entendo os fãs não terem gostado nem um pouco disso, eu sou uma pessoa mais aberta em relação a escolha de produção, mas para isso funcionar precisa ter mais substância nos capítulos vindouros. Nesse caso, algumas linhas de diálogos demonstrando que os novos capangas não são naturais de Tatooine bastaria ou que pelo menos eles retornaram ao planeta natal após algum tipo de exílio.

O ataque do Krrsantan – o wookie que apareceu no episódio anterior – foi bem montada, fez sentido no roteiro de forma geral, mas foi muito previsível que acontecesse logo após sua apresentação. Por diversos motivos parecia que o retorno do wookie seria mais impactante e teria consequências de longo prazo para o protagonista. No entanto ocorreu de forma pontual e rápida, sendo utilizada para trazer de volta os gêmeos Hutt e de quebra trazer um elemento nostálgico para os fãs. A aparição do jovem Rancor foi muito positiva, para aqueles que acompanham o universo expandido sabiam da possibilidade de aparecer tal criatura, pois a espécie teve foco em um episódio da animação “Bad Batch”. Como sempre eu alerto sobre as animações serem um termômetro dos live actions. A utilização de personagens em animações para testar sua popularidade está ficando cada vez mais corriqueiro, era só uma questão de tempo para vermos um Rancor em tela.

Os Hutts pedem desculpas para o Boba por ter enviado o Krrsantan para assassiná-lo, dizem estar se retirando do embate pelas terras do Daimyo e dão a criatura para selar o pacto de paz. Como é bem óbvio essa retira é estratégica, deixando o Boba enfrentar outros oponentes antes de atacarem novamente. Essa retirada ocorre provavelmente por eles saberem do acordo do prefeito com os Pykes, esse grupo muito bem conhecido pelo Boba no passado. Devo admitir que a possibilidade de ver o Boba montando o Rancor no lugar de uma liteira me agrada, a curta participação do treinador da criatura, interpretada pelo grande Danny “Machete” Trejo também colocou um sorriso bobo na minha cara, porém foram momentos tão curtos de satisfação que ficaram aquém nas minhas expectativas.

A forma que eles descobrem sobre a “traição” do prefeito de Mos Espa é o verdadeiro divisor de aguas do capítulo. Alguns vão adorar e outros vão odiar, eu sinceramente achei muito anticlimático. A perseguição em câmera lenta, as speeders coloridas e o Boba Fett com uma mochila a jato chegando por último na perseguição me decepcionou. Novamente eu não me importo em relação as escolhas estéticas quando há explicações coerentes, podem ser que haja uma explicação no futuro e quando eu rever o capítulo com essa informação eu goste da cena, entretanto no momento não pareceu que fez algum sentido. Ficou aquela sensação de estarem inchando a trama, mas nem isso faz sentido, pois o episódio tem pouco mais que trinta minutos. Então veja dessa forma, o tempo do capítulo é curto, mas aparentou ser muito maior e no fim não avançamos em praticamente nada. Precisamos de episódios maiores, que sejam céleres para avançar a história e que não fique inchando a trama com coisas inúteis, ou seja, justamente o oposto do que estamos recebendo.

A guerra vai começar em Tatooine, os Pykes serão a principal liderança de oposição ao Caçador de recompensas e provavelmente veremos ambos os lados recrutando as famílias que mandam no planeta. Existem sim motivos para acreditar que o seriado vai acertar seus rumos, mas tem que começar a fazer isso agora. É só lembrar das nossas expectativas para a série, algo parecido com Game of Thrones no espaço, uma trama mais política de alianças frágeis e possíveis traições, todavia não houve nada parecido com isso e podemos ter um potencial absurdo desperdiçado por falta de visão.