WHAT IF – Temporada 1: Um Mundo Sem Os Vingadores

A Marvel conseguiu novamente se superar ao exercitar sua imaginação ao máximo criando este novo capítulo de WHAT IF. A vantagem óbvia do formato que a animação possui é justamente passar a sensação de estarmos diante dos atores que eternizaram tais personagens apesar de nem sempre serem dublados pelos respectivos astros. Neste caso, temos a falta de algumas vozes conhecidas como Scarlet Johansson, Robert Downey Jr. e Liv Tyler, entretanto os profissionais contratados tentam se aproximar ao máximo das vozes dos famosos e acabam tendo êxito justamente pelos outros personagens terem seus atores originais nos papéis. Desse modo, quando somos transportados para cenas que já vimos em live action, temos a singela impressão de estar contemplando não uma animação da Disney Plus, mas sim um roteiro alternativo para aquela versão que foi para os cinemas. Claro, uma versão muito mais sombria, pessimista e cruel para os Vingadores.

Este terceiro capítulo parte da premissa “e se os vingadores nunca tivessem se unido para lutar devido a circunstâncias obscuras que perseguem nossos heróis?”. Ao contrário dos anteriores, aqui temos uma história muito mais angustiante e misteriosa até o momento. Ela se passa durante uma semana desastrosa para as pretensões do diretor da S.H.I.E.L.D. que tinha aquela ideia de reunir um grupo de pessoas notáveis, para que quando chegasse a hora, eles pudessem travar as batalhas que a humanidade nunca poderia. De fato, as surpresas inseridas nesse pequeno arco de trinta minutos nos deixam muito agoniados ao ver as mudanças que aconteceram em alguma linha temporal do multiverso.

Os Vingadores foi um marco para a história do cinema, muitos não acreditavam como poderiam trazer seis heróis mais um elenco massivo de apoio e conseguir desenvolver todos estes personagens dentro de um tempo limitado de duas horas e meia, entregando ao final um ótimo filme deste gênero. Apesar de hoje filmes de heróis ditarem os rumos do cinema blockbuster, há nove anos essa era uma estrada que ainda estava sendo pavimentada. Também tínhamos o fato inédito de um filme da Marvel nunca terminar em si mesmo tendo aquelas cenas pós-créditos que sempre ligavam um filme a outro, creio que devido a esse detalhe eles decidiram comprimir praticamente todos os filmes da primeira fase do estúdio neste fantástico episódio.

Tudo começa naquela cena marcante do Nick Fury solicitando que o Tony Stark saia da rosquinha. Neste caso vemos um pouco dos “bastidores” dos agentes da S.H.I.E.L.D. antecipando a cena da revelação da Viúva Negra para o Homem de Ferro, entretanto ao usar aquele remédio que diminuiria os sintomas da intoxicação por paládio, o herói acaba morrendo e a Natasha se torna a principal suspeita de assassinar o bilionário. Tudo é muito rápido deixando o público perplexo sem nem suspeitar o que de fato ocorreu. Neste início frenético, o Nick acredita sim que a Viúva não tem nenhum envolvimento na morte de Tony, justamente por ela não ter nenhum motivo plausível para tal. Então ele simplifica a fuga da heroína que dá uma surra nos guardas que a escoltavam. Aqui temos alguns pequenos detalhes que podem passar despercebidos da maior parte da audiência: primeiro temos dois capangas da Hydra disfarçados dentro da S.H.I.E.L.D. que escoltam a Natasha para a prisão, ambos aparecem naquela cena marcante do elevador em Capitão América e o Soldado Invernal, e um deles é justamente o Ossos Cruzados que está sendo dublado pelo Frank Grillo - neste momento eu até cogitei a possibilidade da Hydra estar por trás do homicídio do Homem de Ferro.

Após fugir do seu cárcere a agente resolve seguir sua própria linha investigativa enquanto o próprio Nick Fury segue para o Novo México para encontrar o Coulson que encontrou o martelo do Thor no deserto. Temos pequenas mudanças nas atitudes dos personagens, todavia a cena é praticamente a mesma com o Thor lutando até chegar ao Mjölnir, porém o momento em que o Deus estava sobre a mira da flecha do Gavião Arqueiro muda completamente o que conhecíamos, o Gavião acaba atirando no herói matando ele imediatamente, apesar disso ele informa que não atirou e passa a remoer o momento fatídico duvidando da sua própria capacidade de nunca errar. Logo após ser preso, o próprio Clint Barton aparece morto aumentando ainda mais o mistério do episódio. Vários elementos aqui agregam muito história dessa realidade, o alívio cômico óbvio é o Phil Coulson dublado pelo Clark Gregg que fica deslumbrado com a beleza do Deus do Trovão. Sim, em algum multiverso o agente aparentemente é LGBT. A morte do Thor não foi estranha para mim, muitos acreditaram que ele morreu fácil demais, mas gostaria de lembrar que ao ser expulso de Asgard por Odin, o Deus do Trovão é derrubado pelo taser da Darcy no primeiro filme do personagem. Ele se torna humano, e como tal, ele é extremamente vulnerável a uma simples flecha, por exemplo.

Com isso a resposta vem imediatamente. Loki vem a Terra trazendo os três guerreiros, Lady Sif e o exército Asgardiano para punir aquele que matou seu tão “amado” irmão. Ele inicia o ataque com o cofre dos antigos invernos e subjuga facilmente os agentes em um primeiro momento. Ao constatar que não possuem chance alguma de impedir o vilão, Nick pede que eles deem tempo para que ele possa descobrir quem foi o responsável pela morte de Thor, acordando um prazo de doze horas.

Em paralelo a tudo isso, a Viúva busca a ajuda da Beth Ross para descobrir exatamente como o Tony foi morto. A namorada do Bruce Banner resolve ajudá-la para encurtar essa interação entre elas, com isso descobrimos que o dióxido de lítio sequer sai da seringa, o que não faz o menor sentido. Outro fato que era óbvio para nós, mas não para os personagens, era que todos que estavam sendo assassinados eram candidatos a iniciativa Vingadores, por sorte do acaso um desses candidatos estava sendo protegido pela própria cientista. O Hulk estava sendo auxiliado pela Beth em sua jornada de tentar curar de uma vez por todas seus problemas com o Gigante Esmeralda aprisionado em seu interior. Assim como no filme, o General Ross descobre sua localização e pretende capturar o herói esverdeado, entretanto tudo termina muito rápido, aquele que parecia ser imortal acaba explodindo de uma forma bizarra já estando transformado em Hulk após levar um tiro no ombro.

A maior surpresa nesse momento foi terem desenhado o Bruce Banner com os traços do Mark Ruffalo que volta para dublar o personagem. Muitos até hoje não sabem, mas o filme do Incrível Hulk interpretado pelo Edward Norton é cânone e ele não continuou o interpretando justamente por ter tido problemas com os produtores que passaram a procurar um novo ator para o papel. Então, ver o Mark no lugar do Edward nesta animação foi algo inesperado. Um acontecimento interessante dos bastidores de “O Incrível Hulk” é que o produtor Kevin Feige sempre quis o Mark Ruffalo como Bruce, entretanto como os direitos do personagem pertencem a Universal, eles exigiram que para ceder o personagem, o ator deveria ser o Edward Norton, que na visão do estúdio era simplesmente idêntico aos quadrinhos.

Sobrando apenas a Vingadora para ser aniquilada, ela acaba descobrindo quem era o responsável pelas mortes após entrar nos arquivos da S.H.I.E.L.D. com a senha do Agente Coulson. A cena é feita de forma a agraciar os mais atentos do MCU que descobririam neste momento o vilão que estava por trás dos ataques, seja visualmente na forma que a Natasha é derrotada, seja nas pistas que ela nos apresenta nos arquivos da agência ou na conversa rápida que ela tem com o Nick, tendo alguns trocadilhos rápidos que ao meu ver só funcionaria em inglês. Graças a essa última ajuda da Viúva Negra que Fury desvenda o mistério, ele então vai confrontar finalmente o assassino dos Vingadores com uma pequena carta na manga.

O vilão sempre foi o Hank Pym que estava completamente amargurado pela morte de sua filha Hope que nesta realidade resolveu se tornar uma agente da S.H.I.E.L.D., assim como sua mãe um dia foi. Utilizando seus poderes de encolhimento e uma nova alcunha como Jaqueta Amarela o ex-herói foi matando todos aqueles que seriam notáveis para estar na iniciativa Vingadores para então punir o Fury por ter “deixado” a Hope morrer. Temos o confronto entre eles e claramente vemos que algo não está certo. O diretor está lutando de igual para igual contra o vilão que horas antes venceu facilmente a Natasha. Obviamente não era segredo nenhum que era o Loki se disfarçando para levar o Hank para sofrer as consequências por ter matado um príncipe de Asgard. Claro que a história não termina por aqui, sem os heróis mais poderosos da Terra Loki consegue em vinte quatro horas dominar o planeta, tendo como reforço o exército asgardiano. O episódio termina com o enterro dos Vingadores, a descoberta do Steve no Iceberg e a Capitã Marvel voltando para lutar contra o mais novo ditador da Terra. Um final digno para reaver a esperança dos humanos em seus heróis.

É excelente para o nosso ego quando descobrimos quem é o assassino por trás da história que estamos acompanhando, seja em livros policiais ou em séries da Disney Plus. Então descobrir que o antigo Homem Formiga era o sociopata por trás de tudo através das pistas deixadas, foi muito recompensador. Creio que para aqueles que não esperavam essa reviravolta também será tão interessante quanto, justamente pela surpresa que foi saber como o Homem Formiga pode ser de fato implacável.