Marvel – Gavião Arqueiro – Temporada 1: Os mistérios inerentes da trama convergem em quarto episódio

Em Episódio morno, o seriado optou por dar um foco maior nas construções dos personagens, não avançando a trama de forma satisfatória. Felizmente nada aqui tornou o capítulo arrastado, mas ainda sim pareceu uma pequena barriga em determinados momentos, principalmente nos diálogos entre Kate e seus familiares. Por ser uma série curta este “alongamento” na trama fica quase imperceptível, entretanto fica claro que precisaram incluir cenas para atender o padrão de seis horas para se contar uma história.

Kevin Feige definiu esse tipo de meta para as séries, devido a isso há a necessidade de condicionar os roteiristas para atender o padrão. Novamente não é algo que atrapalha, mas não deixa de se destacar. O melhor de tudo até o momento são os personagens e seus intérpretes. A atriz Hailee Steinfeld demonstra grande potencial, sua personagem possui tantas camadas que é impossível defini-la em apenas um adjetivo. Jeremy Renner tem a oportunidade de dar profundidade ao Gavião Arqueiro, oportunidade essa que ele nunca teve nos filmes. Alaqua Cox ainda não teve tempo de tela para mostrar a que veio e Vera Farmiga tem crescido durante os capítulos podendo ser uma potencial antagonista. Infelizmente o mais fraco até então acaba sendo o Tony Dalton, sua performance meio galhofa ainda não me convenceu, contudo ainda falta dois episódios para o fim.

Todo o início do episódio acaba sendo uma avalanche no hype que foi deixado no capítulo anterior. Tudo bem que imaginávamos que o conflito seria resolvido, porém não da forma que aconteceu. A clássica conversa com os pais foi engraçada, mas não foi nada além disso. As formas como eles interagem ao fato de ter um Vingador a sua frente são minimamente incoerentes, sendo a única explicação alguma trama por trás da fachada de aristocracia da família Bishop. Achei muito tranquilo a reação da mãe da Kate quando soube que sua filha está trabalhando com um vigilante, claro que ela é mais veemente com o Clint pouco antes de sua saída, mas nada faz com sua filha que horas depois se reencontra com o herói. Apesar do estranhamento existem pequenos detalhes aqui que não podem passar desapercebidos. O mais importante de todos é o fato do Jack Duquesne não abaixar a guarda enquanto o herói está na sala, claramente eles não possuem um passado como nas HQs, todavia nada garante que eles não tenham se encontrado no passado, com o Jack estando protegido por sua alcunha vilanesca. A mãe da garota também possui aquele ar misteriosos desde o primeiro episódio, mal vejo a hora desse mistério ser revelado.

Logo depois temos um diálogo muito interessante entre Clint e sua esposa. Claramente eles sabem a importância desse relógio recuperado dos destroços, inclusive temos uma indicação de algum personagem misterioso, um amigo do Clint que conseguiu as informações sobre o Jack e que “está aprendendo russo e correndo muito”. A escolha desse diálogo dificilmente seria apenas um easter egg, inclusive isso tem gerado muitas teorias por parte dos fãs.

Ainda fico em dúvida sobre qual foi a melhor parte do capítulo, a cena final de ação realmente é muito boa, entretanto a interação entre os protagonistas minutos antes possui um apelo emocional muito grande. É a continuidade da cena que Kate ajuda o herói a conversar com o filho. Ela sabendo o quanto ele está sofrendo por não estar com a família no Natal, resolve levar o espírito natalino até o apartamento onde ele se encontra. Tudo aqui funciona, começa em um clima bem leve com eles planejando suas ações contra a gangue do agasalho, passando por vários drinks natalinos enquanto eles curtem várias tradições de natal. Eu não sei exatamente o porquê, mas tendo a acreditar que essa cena é o cerne do seriado, pois consegue unir todas as temáticas trabalhadas em um curto período de tempo. A garota também aprende um truque com uma moeda com o Gavião que claramente vai ser útil em breve. Toda essa alegria vai diminuindo até chegar o momento que a Kate chega na conclusão óbvia: o seu herói era também o Ronin que matou friamente gângsters pelo globo. Não satisfeitos com o apelo da cena, ainda colocam um breve flashback mostrando a morte da Viúva Negra novamente. A utilização desse momento serve para conectar a aparição de uma conhecida personagem mais à frente no episódio.

Para terem sucesso no plano a garota precisa primeiro recuperar algumas flechas especiais do Gavião. Essas flechas ficaram com os amigos de RPG do segundo episódio. Ao contrário do Clint, Kate simplesmente adora todos os "companheiros" que o Gavião tem. O mais engraçado são as reações dos protagonistas em relação aos coadjuvantes. A piada da bolsa da policial me arrancou muitos risos, principalmente por não esperar um diálogo como aquele. Com as flechas na bolsa eles estão prontos para resolverem os problemas relacionados ao bendito relógio. Aparentemente existe algum tipo de rastreador no rolex que tem tido destaque desde o primeiro episódio. Desse modo eles conseguem achar facilmente sua localização, então Clint e Kate tentam armar algum tipo de plano para recuperar o objeto e finalizar essa curta parceria. Todo o plano furtivo criado pelo Gavião é jogado para o alto pela sua aprendiz não desejada. A garota entra no prédio pela porta da frente, mandando algumas piadinhas relacionadas ao próprio herói. Entrando no apartamento, a inexperiência da jovem fica evidente. Ela acaba disparando alarmes silenciosos, por sorte a jovem encontra o relógio e informações antes da dona do apartamento aparecer. Quando a Maya flagra Kate roubando o objeto começa a ação.

Essa cena final é muito bem coreografada, ela possui duas partes que vão se complementando conforme os minutos passam. Enquanto a Kate vai tentando se desvencilhar da Maya dentro do apartamento, o Gavião está no telhado do prédio em frente lutando contra um mascarado. As cenas funcionam justamente por elas aos poucos se convergirem, então em certo momento existem três conflitos acontecendo, Maya lutando contra os arqueiros, os arqueiros lutando contra a figura misteriosa e ambas antagonistas lutando entre si. Parece confuso, no entanto em tela ficou fluido e muito bem definido, a ação em nenhum momento se perde em sua complexidade.

Todos os golpes e habilidades dos integrantes do conflito possuem certo destaque, mas o que mais foi interessante é a escolha criativa de alguns momentos. Quando a Kate é jogada do prédio por exemplo, temos uma clara assimilação da cena com a morte da Natasha, ou coisas simples como a utilização dos ferrões da viúva antecipando a identidade da agressora mascarada. Para aqueles que não acompanham as notícias ou não assistiram ao filme da Viúva Negra, a revelação acabou tendo diferentes impactos. Aqueles que sabiam só estavam esperando mesmo quando ela daria as caras, aqueles que não viram com certeza ficaram perdidos. Fato é que eu gostei da participação da Yelena, entretanto não pode ser apenas um easter egg para colocar um sorriso na cara dos fãs, precisa haver substância em sua aparição. Faltando apenas dois episódios para o fim o seriado precisa começar a amarrar as pontas soltas, por ser uma produção Marvel sempre teremos aquelas sementinhas plantadas, porém as principais problemáticas da série precisam de um fechamento digno.