TITANS – Temporada 3: Quarto episódio desaba ao tentar desenvolver o universo do Batman

O quarto capítulo de Titans possuía a triste missão de superar o terceiro episódio, Columba e Rapina, que de longe havia sido o melhor da temporada até então, entretanto, passa longe disso. Apesar de alguns momentos inspirados, os roteiristas se perdem bastante quando precisam desenvolver os personagens do universo do Batman. A inspiração de moldar tais personagens para fugir da sombra do Cavaleiro das Trevas é praticamente inexistente, as escolhas dos caminhos a seguir chegam a ser de um mal gosto tremendo principalmente quando são ideias recicladas que não deram certo nem nas HQs.

Em alguns momentos inclusive, parece que está sendo um sufrágio para os escritores serem obrigados a criar um enredo que personagens como Asa Noturna, Capuz Vermelho e o Batman em si sejam o motor da trama. Digo isso pois todos os momentos que são relacionados apenas aos titãs são justamente os melhores do seriado. Através dessa visão tenho esperanças ainda de que esse arco do Jason vai acabar o mais cedo possível para retornamos a série de equipe que é de fato o nosso interesse.

Por motivos óbvios, a retomada desse capítulo aborda a chocante morte do Rapina do episódio que o antecede. Temos todos lidando com a dor de ter falhado com o amigo e não terem conseguido fazer nada para impedir o seu triste destino, entretanto eu senti um pouco de falta da Columba sofrer de fato pelas escolhas que mataram o seu amado. Parece que toda o desenvolvimento que deveria acontecer nesse momento com ela passando pelo luto e aprendendo com os erros foi simplesmente descartado para termos tempos de tela para outras coisas completamente desnecessárias nesse momento. O motivo claro para o meu descontentamento é a personagem ter literalmente explodido o herói quando tenta assassinar o vilão. Mesmo sabendo que isso seria sacrificar suas próprias convicções sobre justiça, suas escolhas tiveram consequência severas que precisavam de um aprofundamento maior na psique da heroína.

Então neste início quem mais parece sofrer por suas falhas é o Superboy, que passa a ter dúvidas até mesmo sobre sua natureza. Foi muito bem pensado esse mini arco do personagem, pois ele sendo um clone ainda não havia vivido o luto, e o fardo de possuir não só o DNA do maior herói da terra, mas também do vilão que sempre tem planos mirabolantes para ser endeusado pela população faz com que o Connor não saiba se existe alguma possibilidade de ele enfim ceder ao lado negro. Pena que dure tão pouco este arco do herói.

Temos então a Columba indo embora para tentar superar a dor de perder o Hank, um Asa Noturna com tanto ódio que vai fazer qualquer coisa para pegar o Capuz, e a Estelar perdendo o controle para as visões contínuas que está tendo. Neste momento o seriado decide contar duas histórias paralelas: enquanto a Kory se junta ao Gar para desvendar suas visões parando de vez seus "apagões", o Asa Noturna decide sequestrar o Espantalho da cadeia, pois acredita fortemente na participação do vilão na criação deste novo. Este é o divisor de águas do seriado inteiro no meu entendimento, enquanto a primeira temporada é focada inteiramente nos problemas da Rachel e a segunda possui um arco fechado dos Titãs atuais com antigos se conectando no final, o atual ano da série ainda não sabe o que gostaria de se tornar, mesmo sendo óbvio para os fãs que tudo o que queremos é uma série focada na equipe desenvolvendo um personagem de cada vez.

Primeiro vamos falar dos pontos fortes. Toda a história de descobrimento da Estelar é muito boa. Temos aqui um Mutano tentando cuidar dos parceiros de equipe, apesar de só se prejudicar quando tenta algo. Ele é atacado com duras palavras pelo Superboy que está amargurado e atacado fisicamente pela Tamariana nos momentos de transe dela. Apesar disso tudo ele possui um senso de companheirismo elevado demais para deixar a parceira de equipe de lado. Eu ri tão espontaneamente após a tentativa fracassada de usar aquela máquina de meditação, a aparição do Gar com um olho roxo após ser apagado pela heroína foi hilária, para dizer o mínimo. Com isso temos a revelação que nós até antecipamos em reviews passadas sobre as visões estarem diretamente relacionadas com a “irmã malvada” da Kory, a Estrela Negra que sabíamos já estar na terra em busca da irmã exilada. A Komand’r acabou sendo capturada quando chegou ao planeta e desde então ela tem conseguido mandar mensagens a outra Tamariana mais próxima como um pedido de socorro. Tudo aqui funciona desde os diálogos profundamente complexos entre as irmãs, até a luta corporal muito bem ensaiada de ambas. Os alívios cômicos estão bem encaixados e não soam forçados em momento algum, ainda podemos ter uma grande vilã para o terceiro ano da série que pode superar a participação do próprio Exterminador do segundo ano.

Com isso temos a parte fraca do capítulo protagonizada pelo Dick Grayson, Jason Todd e Jonathan Crane. Não à toa, a parte sofrível do capítulo é exclusivamente focada nos problemas da Bat-família e seus vilões. Infelizmente nada faz sentido nas ações, nem dos protagonistas, nem dos antagonistas. Primeiro temos o Espantalho sendo espancado na prisão com a explicação posterior de que seria uma forma do Capuz Vermelho conseguir libertá-lo no momento de sua transferência. Isso também era algo que havíamos antecipado anteriormente sobre a participação do vilão na desconstrução do antigo Robin até ele se tornar o Capuz, entretanto o que me deixa revoltado é o Dick antecipar esse resgate e sequestrar o Jonathan primeiro sem estar usando seu uniforme heroico. Veja bem, logo após ele ter levado o Espantalho, o corregedor que estava fungando no pescoço da Bárbara Gordon consegue ver a gravação das ações do herói e engole uma desculpa esfarrapada dada pela comissária. Ele praticamente revela a todos seu alter-ego de graça, qualquer policial de Gotham que visse essas gravações ligaria a ação do Dick com atitudes anteriores do próprio Batman.

De qualquer modo, ele consegue ser bem-sucedido. Neste momento temos algumas revelações de como o Crane já sabe tudo sobre o Batman e seus jovens parceiros. Jason não tardou em contar cada detalhe das operações do Bruce, e com a ajuda dele estava recebendo algum tipo de soro que inibe aparentemente o medo. Com toda certeza as explicações dessas ligações entre os vilões serão abordadas em um futuro próximo. Dick os leva a uma cabana onde Bruce treinava os Robins para se preparar para capturar o Jason. Neste momento temos alguns diálogos que tentam parecer mais inteligentes do que realmente são, uma tentativa medíocre de tentar nublar nossos sentidos para os erros cometidos até este momento.

Quando temos maiores explicações sobre a infância do Dick, somos agraciados com uma das piores escolhas feitas em HQs sobre violência com animais no cânone do Batman. Temos simplesmente uma criança sendo torturada por um adulto para aprender que não deve ter medo de um lobo, por exemplo, é o Lobo que deve temer o jovem Robin, terminando a cena com o Dick entregando a cabeça do animal para o Bruce. Sinceramente não sei como os ajudantes do Batman conseguiram manter algum tipo de sanidade por tanto tempo. Tudo termina em mais uma luta entre o Asa Noturna e o Capuz Vermelho que é sim empolgante, mas parece tão vazia quando olhamos para trás para analisar como essa nova batalha foi construída. Para piorar, a Bárbara Gordon acaba atrapalhando o herói dando a oportunidade de ambos os vilões fugirem. Será que é tão difícil fazer algo coerente? Com isso minhas saudades dos personagens da segunda temporada só aumentam. Quero uma série boa dos Titãs e não uma série meia boca dos “Robins” do Cavaleiro das Trevas.