Marvel – Moon Knight – Temporada 1: Cavaleiro da Lua se consolida no excelente segundo episódio do s

Cavaleiro da Lua é de longe a série do Disney Plus com melhor começo, claro levando em consideração as obras que fazem parte do MCU. Apesar do herói ser estreante nesse universo, a origem que está sendo contada não é chata, arrastada muito menos rasa, o roteiro é assertivo para dar celeridade a trama, principalmente focando no desenvolvimento de um personagem tão complexo como Marc/Steven. O fato dele possuir esses distúrbios engrandece a trama, inclusive abrindo discussões necessárias sobre esse tipo de tema, não preciso reafirmar que capacitismo é um problema sério, por isso trazer um herói que sofre com a saúde mental foi uma boa escolha, principalmente para desmistificar certas crendices populares.

Todavia o que mais gostei nesse segundo episódio foi justamente não utilizarem recursos passados em demasia e claro as interações do Steven ao longo do episódio. Seja quando ele conversa com si mesmo nos reflexos, quando interage com o deus Khonshu, até mesmo a forma de agir com Layla ou com o vilão da série mostram a versatilidade do ator. Existem alguns momentos que os críticos de “piadas” vão reclamar, esse não é o meu caso, quando a quebra cômica funciona e me faz rir naturalmente porque eu deveria odiar? Só por que a série é mais sombria, não quer dizer necessariamente que tem que ser levada a sério em cem por cento do tempo. Até mesmo em filmes com temas sérios e muito dramáticos existem recursos como esse, para trazer leveza para a obra, o que eu chamaria de “antes da tempestade vem a bonança”. Dito isso acredito que a série está escalando o nível de tensão de forma gradual, a cada episódio o clima ficará mais sério e o suspense mais evidente.

Cavaleiro da Lua possui uma característica importante de narrativa para gastar o mínimo de tempo com coisas supérfluas. O primeiro episódio até gasta tempo de tela com coisas que o fã não se importava, mas até mesmo cenas como a do restaurante ou a conversa com a estatua viva compõe, mesmo que de forma sutil, as nuances que Steven possui. Essas características que diferem completamente as duas personalidades do herói. O segundo episódio já começa bem acelerado, Steven acorda assustado em casa, se lembrando de todo o conflito no museu contra o chacal. A cena inicial é bem dinâmica, rapidamente ele vai para o museu, vê que a criatura era invisível nas câmeras e é despedido sem direito a uma resposta. Ainda colocam o personagem em uma cena com um psicólogo, cena esta que traz toda a confusão mental que ele está passando, pois, um dia atrás ele era apenas um vendedor com distúrbios do sono, agora ele descobre que quando dorme ele sai por aí fazendo trabalhos como mercenário. Novamente ele procura a estatua viva para conversar, acredito que foi a última vez que veremos essa interação, mas essa dinâmica mostra como o vendedor está completamente perdido e como está frustrado por não entender o que está acontecendo consigo mesmo. A revolta de Steven é muito real, tanta que ele decide achar o armazém que sua contraparte mantinha, começa finalmente a tomar as rédeas da própria vida.

Chegando no depósito Steven encontra tudo que receava, claramente sua contraparte estava vivendo uma vida completamente diferente da dele. Encontra uma arma, dinheiro, passaporte e claro o escaravelho de Ammit. Devo pontuar como a trilha sonora original começa a me pegar aos poucos, uma música tema inspirada em canções egípcias vai se aflorando até atingir o ápice, ela é muito marcante e aparece em mais de um momento no episódio, sempre me deixando arrepiado. Outro detalhe interessante é ver como as paredes desse armazém possuem um reflexo distorcido, uma alegoria para o que o personagem está sentindo, pois quando o Steven confronta o Marc ele realmente vê todas essas novidades de forma turva, não entende a real importância desse escravelho e como isso pode afetar as pessoas. Esse objeto tão cobiçado na verdade é um tipo de bússola, algo que o vilão da série precisa para encontrar a tumba da deusa egípcia. Ele se recusa a dar o controle para o Marc e foge do local com o escaravelho se encontrando cara a cara com Khonshu. Aqui temos algo para abordar, a voz do Khonshu no episódio anterior incomodou alguns, muito chegaram a comparar a dinâmica da série com a do Venom, realmente é impossível não se lembrar do filme, porém aquela dinâmica já evoluiu neste segundo capítulo. Agora que junto do personagem estamos descobrindo sobre essa mitologia, a aparição constante do deus está acontecendo, não estão mais escondendo o Khonshu utilizando apenas como uma voz na consciência do Marc.

Ao fugir do deus, Steven acaba se encontrando com Layla, a esposa de Marc que estava rastreando o celular do marido. Steven fica chocado ao saber que possui uma esposa e pior ele pediu o divórcio para ela, algo que para ele é impensável, já que ele simplesmente adorou a personalidade de sua esposa secreta. Tudo indica que o único motivo de Marc pedir o divórcio é para proteger Layla, já que o próprio Khonshu já admitiu que ela poderia ser seu próximo avatar, entretanto agora que ela está com a pulga atrás da orelha, Layla irá até o inferno para entender o que está acontecendo. Em relação a personagem eu gostei, a atriz ainda não pode mostrar tudo do que é capaz, todavia ela teve pouquíssimo tempo de tela para nos apresentar a personagem e mesmo assim demonstrou um carisma interessante para o programa. Outro detalhe é a diferença desse “interesse amoroso”, quando comparada a outras personagens dentro do MCU, Layla desde o início é muito mais que apenas a “namorada do herói”, ela é companheira de aventuras de Marc e sabe muito bem se cuidar sem depender do super-herói bonzinho para salva-la. Eu não acreditei que ela tinha saído pela janela, quando os policiais chegaram para questionar o Steven, por um minuto quando eles estavam avaliando se havia mais alguém no apartamento, eu jurava que a moça seria pega ou estaria escondida debaixo da cama, porém quando vi o recurso que ela utilizou para escapar foi uma surpresa.

Os policias levam o Steven com a alegação dele ser um fugitivo internacional que trabalhava como mercenário no Egito. Claro que essas alegações são verdadeiras, mas o motivo de leva-lo não tinha nada a ver com seu passado supostamente “criminoso”, mas sim com o fato deles também serem fiéis da deusa Ammit e por consequência seguidores de Arthur Harrow. Cada vez mais, Ethan Hawk se mostra um excelente interprete, não que houvesse dúvidas acerca disso, porém sua interpretação de líder de seita está perfeita, sua suposta bondade, ensinamentos da sua religião prodigiosa, a comunidade criada para construir algo puro, todas essas coisas que um líder de seita faz para manter as pessoas no seu controle. Sua composição é tão incrível que nos faz brevemente acreditar nele, pois uma das maiores qualidades de um líder desses é o carisma, as formas como eles fazem as pessoas duvidarem até da própria família, algo necessário para conseguir completa submissão. Então o discurso que faz para o Steven é muito bem elaborado, ele chega a admitir que já foi o avatar de Khonshu, porém passou a duvidar dos métodos do deus egípcio, a forma como ele “adivinha” todas as falas do deus é impressionante, tanto que consegue ir manipulando o Steven a cair nesse jogo, todavia mesmo assim o vendedor não aceita entregar o escaravelho.

Quem aparece com o artefato é justamente sua esposa Layla, utilizando como peça de barganha para se aproximar do seu marido e finalmente a ação do episódio começa. Ela pede para Marc invocar o traje, porém ainda é o Steven que está no controle. Por mais que Marc implore para sua contraparte ceder Steven não cede, nem mesmo quando Marc diz que se não o fizer vai acabar deixando Layla morrer. O perigo é real e essa interação metafisica entre os dois é outro ponto alto do episódio, já imagino as possibilidades de ramificações que podem ocorrer no próximo episódio. A fuga não sai como esperado, porém finalmente temos o vislumbre do Mr. Knight, contudo não da forma como os fãs esperariam, pois apesar da invocação do traje Steven continua no controle da situação, tendo que enfrentar novamente um chacal invocado pelo vilão. A cena é para ser engraçada/desajeitada, esse recurso é utilizado para termos completa noção das diferentes personalidades, tanto que o Marc quando toma o controle se torna um herói de fato, ele foge para proteger os inocentes, numa sequência de perseguição muito bem-feita e finaliza o Chacal o empalando em uma escultura religiosa. O tom da série vai ficando mais “dark” gradualmente, principalmente agora que veremos mais da aventura do Marc no local mais simbólico do herói, na lua? Não, no Egito é claro.

Isso só é possível já que o Steven acabou deixando o escaravelho cair na luta contra o chacal, um recurso fraco de roteiro devo admitir, mas até aqui é algo tão pequeno que não chega a incomodar, foi a forma que resolveram dar continuidade para a trama da série, levando o herói de um lugar para o outro. Como já estamos carecas de saber, a Marvel muitas das vezes escolhe o caminho mais fácil para seus produtos, as pessoas fissuradas em teorias do Mephisto e no fim era a “Agatha all along”. Os exemplos dentro do Disney Plus são diversos, alguns que me agradam mais, outros que não agradam nem um pouco, todavia para avaliar isso eu preciso ver a obra como um todo, se não corro o risco de estar sendo injusto na avaliação. O episódio final termina mais uma vez com a excelente trilha sonora, uma trilha épica para se equiparar a grandiosidade das pirâmides que são reveladas quando Marc abre a janela. Estou muito ansioso para o que está por vir, tudo pode acontecer agora e não acredito nem por um momento que não será algo épico.