Star Wars – Obi-Wan Kenobi – Temporada 1: Seriado atinge intimamente os sentimentos de quaisquer fãs

Atualmente os fãs de Star Wars possuem uma frase muito específica para determinar se uma produção de universo é verdadeiramente boa. Eu mesmo já disse algumas vezes com Mandalorian por exemplo e vários criadores de conteúdo repetem essa frase em seus vídeos ou podcasts. A frase é curta e objetiva, indicando que sabemos exatamente o que queremos quando vemos a logo da Lucas Film e pode ter certeza que nem somos tão exigentes assim. Toda vez que um fã da franquia quer realmente mostrar apreço por uma obra ele diz: “Isso sim é Star Wars.”

Isso acontece pois criamos certas fórmulas na cabeça que compõem a franquia como um todo. Seja as tecnologias mega avançadas que possuem um visual retro inconfundível, os conceitos fluídos dos diversos planetas que fomos apresentados, a verossimilhança que foi construída ao longo das décadas e claro os conceitos de bem e mal que são divididos entre Jedi e Sith ou Aliança rebelde e o Império Galáctico. Então sim toda vez que um novo produto de Star Wars estreia tem a árdua missão de agradar os fãs antigos e procurar trazer novos fãs para a franquia o que em si é muito difícil. O equilíbrio para isso é trazer elementos nostálgicos que realmente agreguem ao programa, não sendo apenas um easter egg vazio, somado a aventuras divertidas com roteiros bem escritos e uma direção ciente da necessidade de entregar essa “ópera espacial” com uma qualidade diferenciada. Então eu digo que Obi-Wan Kenobi conseguiu, claro que estamos apenas nos dois primeiros episódios, mas foi o suficiente para me fazer dizer: “Isso sim é Star Wars.”

A trama da série foi apresentada de uma forma tão sutil que foi surpreendente para mim. Claro que existiam certas premissas que já estavam postas desde o primeiro trailer, principalmente o fato dele estar sendo perseguido pelos inquisidores, seres do lado negro que estão sob ordem de Lord Vader. Entretanto o que mais me surpreendeu foi como utilizaram certos recursos para colocar Obi-Wan no caminho dos vilões, preservando principalmente o local de seu exílio, onde o mestre Jedi permaneceu até o momento em que o Luke já tinha idade para entender a guerra que se aproximava. É imprescindível notar como a composição dos fatos vão gerando tensão e sensação de urgência conforme as peças vão sendo colocadas no tabuleiro, tendo um ápice no final do capítulo que me obrigou a fazer a famigerada afirmação.

Tudo começa com um Jedi sendo perseguido em Tatooine, neste momento conhecemos alguns dos inquisidores e como é o modus operandi deles. Todos os três possuem um grau de periculosidade, isso fica evidente em suas excelentes performances e claro a suas caracterizações. O Grande inquisidor foi de longe o mais criticado nos trailers, no entanto ele possui uma aura de vilão muito forte, ele conseguiu passar isso ao público com um simples dialogo, neste momento a tensão vai subindo até finalmente termos a revelação do Jedi no bar. Minha surpresa de ver um Jedi aleatório foi tamanha, pois obviamente a gente tende a acreditar que o Jedi procurado pelos facínoras era justamente o antigo mestre de Anakin. No entanto não foi isso que aconteceu, apesar de meu assombro entendi que a cena anterior tinha uma função bem especifica, a introdução do código jedi e suas ramificações, já que o Grande Inquisidor afirma que “um Jedi caça a ele próprio”, fazendo uma alusão de como os Jedi se recusam a abandonar aqueles que precisam deles.

Essa afirmação logo no início é importante para ditar os caminhos da trama, pois eles não escondem a incrível participação da princesa Leia, não fazem nenhum tipo de suspense, logo de cara vemos o planeta Alderaan onde a rebelde foi criada e temos uma cena muito boa para reapresenta-la ao público. Pela primeira vez em live action vemos a princesa com dez anos de idade, mostrando como ela é bastante independente, ávida por aventura e lugares abertos, no entanto é justamente está personalidade que coloca a jovem em risco. Antes de ser sequestrada a mando da Terceira Irmã, podemos ver um pouco mais a sagacidade da garota e como ela desde de jovem tem qualidades bem específicas, neste caso a ferocidade quando a diplomacia não dá certo.

Aqui devo comentar como essas crianças estão cada vez mais talentosas, algumas delas atuam tão bem quanto o mais experiente ator, esse elogio se estende a direção que precisa saber retirar uma boa interpretação de atores mirins. O sequestro da jovem é bem angustiante, já que ela bravamente resiste ao máximo, transformando um trabalho “fácil” para os caçadores de recompensa em uma perseguição mais problemática. Por pouco a jovem consegue voltar a segurança do palácio, mas infelizmente é levada. Isso acaba sendo a desculpa perfeita para Obi-Wan sair de Tatooine, já que o senador Organa vai pessoalmente pedir ajuda do Jedi. Era algo que eu esperava que fosse acontecer, não faria sentido cronologicamente se os inquisidores tivessem descoberto o local de exílio do Jedi, no entanto a forma que escolheram para levá-lo de um ponto ao outro foi uma surpresa positiva.

Todos os eventos que acontecem em Tatooine são pilares que se somam ao sequestro de Leia, principalmente o brutal assassinato do Jedi que apareceu inicialmente e as ameaças da Terceira Irmã Reva ao Owen tio do Luke. As cenas dos inquisidores possuem graus de periculosidade distintas, em alguns momentos parece forçado neste primeiro episódio, em outros parecem muito naturais. As ameaças de Reva ao Owen eu acredito que não ficaram tão fluidas, parecia realmente um texto decorado e a atriz não conseguiu fazer algo menos caricato. Neste caso não passa nenhuma periculosidade, já que sabemos que o Owen não irá morrer agora, isso tira todo peso da cena pois não tememos pela segurança do personagem. O mesmo já não posso dizer quando no início Reva arremessa uma faca no dono do bar, naquele momento quando fazem a descoberta é carregado de boas atuações e bons diálogos, incluindo claro o puxão de orelha que o Grande Inquisidor dá em Reva, já que a vilã possui uma bizarra obsessão para encontrar Obi-Wan.

Não fica claro se ela conhecia o Jedi desde a velha republica, podendo inclusive ter sido uma padawan antes da ordem 66 ou se tudo que ela faz é por adoração ao Lord Vader, alguém tão poderoso que valeria a pena ser agradado. De qualquer modo a atriz possui uma excelente desenvoltura, o potencial existe e pode ser lapidado conforme os episódios passam, tudo que podemos fazer agora é aguardar. A história do Jedi que se caça sozinho volta a ser tema central, isso ocorre quando descobrimos que a Reva é responsável pelo sequestro da princesa e que sabia como Obi-Wan era ligado a família Organa. Isso é interessante, ela utiliza de intermediários para sequestrar a garota, já que o Império precisa “manter as aparências” e fingir que respeita os senadores da velha república, pois em tese o império surgiu através de um acordo diplomático.

O final traz aquela sensação de segurança, um sentimento de que os realizadores estão cientes do que estão fazendo, irão se esforçar para entregar a melhor encarnação de Obi-Wan em live action e isso por si só já é um alívio. Devo também elogiar obrigatoriamente a trilha sonora e a direção de arte do programa. As músicas clássicas criadas por John Williams sempre voltam nos deixando embriagados de nostalgia, quando aparece o sabre de luz no final do capítulo faz com que os mais sensíveis chorem de alegria, pois aquilo ali é Star Wars. Isso sem contar a direção de arte que trouxe estonteantes paisagens, seja as do deserto de Tatooine ou as florestas de Alderaan. Sem contar que temos de volta o conceito futurista empregado no planeta, com seus prédios avançados e no palácio do senador Organa. Até o momento o potencial dessa série apenas riscou a superfície, nos preparando para tudo que está por vir. Mal posso esperar para ver a interpretação de Hayden Christensen como Lord Vader, até onde sei