Marvel - Homem Aranha: Sem Volta Para Casa – O maior filme de super-herói de 2021!

A Marvel continua impecável ao criar novas tramas conectadas dentro de um universo compartilhado. A dificuldade de dois estúdios conseguirem se acertar para trazer bons filmes que se conectem sem parecer forçado é muito grande, principalmente quando essa conexão vai buscar vilões clássicos de filmes anteriores do cabeça de teia vivido pelos mesmos atores. A Sony conseguiu seu lugar nas entranhas da Disney e podem ter certeza de que só sairá de lá obrigada.

Digo isso pois o estúdio quer que suas produções também sejam canónicas no MCU, isso acaba sendo uma discussão muito ampla, já que desde a descoberta do multiverso em Loki, todas as produções Marvel acabam sendo canónicas por tabela. Séries da Netflix, Agente Carter, Agents of SHIELD, assim como X-Men, Quarteto Fantástico e os Homens Aranhas da Sony estão todos inseridos no MCU, sendo diferenciados apenas em universos distintos que formam o multiverso. Isso é incrível e perigoso ao mesmo tempo, pois um erro de cálculo pode ser catastrófico para a nova saga da Marvel nos cinemas.

Já podemos dizer que Homem-Aranha: Sem Volta para Casa é um dos maiores projetos da casa das ideias junto da Sony. Note que eu não digo o melhor, pois esse filme possui sim alguns erros, algumas conveniências que em um filme normal eu iria abordar ferrenhamente, porém por ter tantos acertos consecutivos seria injusto diminuir este filme por pequenos deslizes na trama. Nunca achei que diria isso, mas o filme é tão bem dirigido que dá certa esperança para o filme do Quarteto Fantástico, Jon Watts se superou no terceiro filme da franquia e realmente foi o "Vingadores Ultimato" do diretor.

O filme se inicia no exato momento em que o Homem-Aranha tem sua identidade revelada pelo teórico da conspiração J. Jonah Jameson. A vida do jovem fica de cabeça para baixo, pois todos ao redor dele estão sofrendo as consequências da revelação. O mais surpreendente é que esta parte da trama se desenvolve de forma mais célere, nos deixando quase sem fôlego. Tudo é resolvido em um instante graças a cortes rápidos, passando desde as acusações da polícia até a aparição do grande Mathew Murdock, sua participação fez o cinema explodir ovacionando o retorno do Charlie Cox ao papel. Surpreende a forma como resolveram esse problema, mas de modo nenhum foi uma explicação rasa ou malfeita, muito pelo contrário, ao escolher a praticidade em um momento banal do filme o diretor opta por deixar a trama fluida, sem fazer aquelas barrigas que deixam o filme cansativo. Toda interação do Demolidor dentro do MCU é ótima, a pena talvez é ter sido apenas poucos minutos de conversa entre ambos. Problema com a polícia resolvido o filme resolve agora abordar os problemas interpessoais do herói no seu círculo íntimo, neste caso a repercussão na escola de Midtown sobre a revelação do herói. É engraçado a abordagem daqueles a favor e contra o Peter Parker, muitos acreditam que o Mystério estava certo, porém são tratados como pessoas que acreditam em uma conspiração qualquer. Precisamos então falar do J.J.J. que passou de um maluco com uma tela verde no porão, para um grande jornalista sensacionalista. O personagem continua sendo ótimo, de certo modo ele não é utilizado apenas como alívio cômico, pois graças a ele a trama consegue seguir um caminho mais condizente.

A gota d'água que faz o Peter procurar o Doutor Estranho é quando ele e seus amigos são recusados em grandes faculdades por causa das recentes polêmicas em que o herói se envolveu, por isso é importante a aparição do J.J.J. que coloca o herói como um grande vilão, devido a isso todas as instituições se negam a aceitar uma possível fruta podre que possa sujar o nome das universidades. O pior de tudo é que Ned e M.J. também são atingidos diretamente por serem considerados cumplices, uma motivação interessante para o Peter procurar soluções mais drásticas para seus problemas. Quando chega ao Sanctum Sanctorum a interação não poderia ser mais engraçada, por uma tecnicidade o Mago Supremo não é mais o Stephen Strange, Wong tomou este posto após o herói ficar desaparecido no blip por cinco anos. Rapidamente o Ex-Mago Supremo encontra uma forma de resolver os problemas do rapaz, ele possui um poderoso feitiço do esquecimento que fará com que todos esqueçam a identidade de super-herói de Peter Parker. Sim apesar de todas as teorias a única coisa que faz com que o feitiço dê errado é a língua solta do Homem-Aranha. Eu poderia ter um ódio colossal com uma solução tão simples, porém as consequências dessa simplicidade trouxeram tanta satisfação que eu simplesmente aceitei sem questionar, inclusive acho que muitas coisas ainda serão explicadas em futuras produções, não podemos esquecer que o próximo filme é justamente do Doutor Estranho no Multiverso da Loucura.

O mais impressionante é que a ação não começa imediatamente após o fracasso do feitiço, o Peter, após levar uma bronca do Stephen, resolve fazer uma apelação para o MIT para seus amigos terem uma segunda chance. Neste momento temos a cena da ponte que foi tão utilizada no trailer, quando o Doutor Octopus aparece a nostalgia bateu muito forte, principalmente por Homem-Aranha 2 ter sido o primeiro filme que eu vi nos cinemas. Foi tão emocionante ver esse vilão em tela novamente que fica difícil descrever o momento em palavras. E sim a cena é de uma perfeição absurda, está facilmente no top 3 batalhas desse filme, por ser uma cena de luta de dia a qualidade da computação gráfica é ótima e conseguimos ter uma visualização limpa de toda a batalha, em nenhum momento ela fica confusa ou desafia nossa suspenção de descrença. E claro os diálogos também não ficam para trás, passam a credibilidade do primeiro embate desses personagens nesse universo tão diferente.

As teorias dos fãs estavam certas, a nanotecnologia serve como um downgrade nos braços mecânicos do Doutor Octopus. Apenas com essa vantagem que o Homem-Aranha consegue vencer o vilão, a primeira aparição do Duende Verde acontece na sequência mais a luta é adiada pelo Stephen que leva o herói de volta para o Sanctum. No cinema esta cena veio com um ar de decepção, todos queriam um embate ali mesmo entre Duende Verde e Homem-Aranha, então sim deu para ouvir os suspiros de tristeza, todavia não sabíamos o que estava à frente. Toda a explicação sobre o multiverso acontece depois do Doutor estar preso na masmorra do Sanctum, apesar de um pouco expositivo os diálogos não chegam a incomodar, logo após a conversa que Peter decide chamar seus amigos para resolverem o problema com os vilões. Agora devo dizer que adorei a relação do Peter com seus “companheiros de equipe”, sua relação amorosa com a M.J. está cada vez mais fluida, eles durante todo o filme vão estreitando sua relação deixando cada vez mais verossímil o amor que sentem um pelo outro, o Ned também é interessante apesar de sua importância ser minimizada em relação ao seu melhor amigo, pois claro que ele não teria a mesma importância que a M.J. na trama.

Depois de se organizarem eles partem para encontrar os novos vilões, na masmorra do Mago Supremo já havia o Lagarto capturado pelo Doutor Estranho e o Doutor Octopus. A busca dos garotos os levam a encontrar mais dois vilões, Electro e Homem-Areia em uma localidade afastada próximos a torres de transmissão. A ação aqui diverte, existem boas piadas sobre o visual do Electro e graficamente falando a cena impressiona, no entanto acho que ela acaba durando pouco tempo, graças à ajuda de Flint Marko, o Homem-Aranha consegue vencer o Electro sem grandes dificuldades e apesar de eu odiar o visual azul do vilão, eu gostaria que houvesse o mínimo de lógica na primeira mudança do vilão voltando a ter um corpo normal. Claro que essas pequenas falhas não incomodam quando olhamos o todo, mas uma linha de diálogo bastaria. O Duende Verde acaba se entregando voluntariamente, ele procura a Tia May que entra em contato com o Peter, existem detalhes muito interessantes no retorno de Norman após “abandonar” seu álter ego, ele realmente parece gostar desse novo Peter, principalmente quando descobre que ele também possui uma “Mary Jane” nesse universo. Com os cinco presos na masmorra o Doutor Estranho reaparece com uma caixa que iria finalizar toda essa loucura, mas quando descobre que os vilões vão morrer ao voltarem para seus universos Peter toma uma atitude drástica, rouba o artefato e luta contra o Strange para salvar esses vilões. A cena é fantástica, tanto conceitual quanto visual, não me lembro em qual outro filme de super-herói o protagonista luta para salvar os vilões, ao invés de apenas derrota-los. Como eles se enfrentam na dimensão espelhada temos aquelas cenas maravilhosas que não respeitam nenhuma lógica, terminando apenas quando o Homem-Aranha usa a ciência para vencer a magia. Ouvi diversos críticas sobre o Doutor estranho não ter conseguido sair da dimensão espelhada, porém elas não fazem o menor sentido quando revemos o filme do Mago Supremo. Sem os anéis que abrem portais não é possível sair daquele local, essas explicações são claras no filme do Doutor Estranho.

Após esse embate o Peter decide tomar as rédeas da situação, sabendo que suas ações vão ter consequências, mas ele precisa tentar salvar vidas. Ele leva os vilões para seu apartamento para criar curas para cada um dos antagonistas e de fato eles conseguem desenvolver curas, sendo o Octavius o primeiro a recebe-la. Fiquei impressionado quando o plano do Peter dá certo, consertando o chip dos braços o Octopus volta a ter o total controle dos braços. Tudo dá começa a dar errado quando a contraparte de Norma volta ao controle. Pode parecer redundante, mas não tem como falar de outro modo, a cena da descoberta do traidor e todas as ramificações são sensacionais. Não existe ninguém que possa substituir Willem Defoe como Duende verde, a atuação dele é fantástica, sua fisionomia toda muda, as entonações do ator em suas falas gelam a espinha, a única coisa que podemos fazer é aplaudir de pé. A forma como o Peter descobre o traidor é incrível, eles utilizam seu sentido aranha de uma forma nunca antes vista, quando ele finalmente prende o vilão responsável pela traição a melhor cena de ação acontece. A luta entre Duende verde e Homem-Aranha é surreal. Os socos e golpes do herói são implacáveis, tudo indica que ele luta com todas as forças pois o Duende ameaça sua Tia minutos antes. O Duende se equipara em força e habilidade graças ao soro que corre em suas veias, quando ele ri de forma bizarra ao levar os golpes do Homem-Aranha acaba de consolidar o personagem, Defoe entrega uma atuação esplêndida cheia de nuances que agregam muito a nossa experiência. Tudo termina quando uma personagem querida morre nos braços do Peter, a Tia May é atingida fatalmente apesar dela conseguir ainda se levantar depois do golpe. O cinema vibrou quando foi ela que proferiu “com grandes poderes, vem grandes responsabilidades”, infelizmente sua morte finaliza este segundo ato e sim a cena é muito forte, emocionante, pois por alguns minutos acreditamos que tudo ficaria bem.

Quando Peter perde sua bússola moral ele atinge o fundo do poço como todas as versões do personagem, pois, as consequências dos seus atos sempre estiveram no cerne do Homem-Aranha. Temos então a cena que todos esperavam, a aparição de Andrew Garfield e Tobey Maguire acontece graças ao melhor amigo do Peter, Ned acaba abrindo portais para outros Peters quando procura seu amigo enlutado. Alguns acharam a cena anticlimática, eu achei que ela foi perfeita. Ambos os atores entregam de forma fiel as suas específicas versões, todos os maneirismos que lembrávamos de outros filmes estão aqui, por isso acaba sendo uma fã servisse muito bem colocado. Existem piadas com essas versões que são ótimas, mas o peso real de suas aparições acontece quando encontram sua versão do MCU. A cena acontece no telhado da escola Midtown, quando os dois Aranhas aparecem pendurados na torre foi a mesma sensação que tive na animação do Aranha-Verso. A cena é de uma singularidade incrível, todo o diálogo sobre responsabilidade acrescenta muito ao protagonista, sendo que em momento algum Tobey e Andrew roubam os holofotes de Tom Holland, ele é o Aranha que está passando pelo seu arco, enquanto ambos já tiveram seus ciclos fechados em seus universos. Existe detalhes sobre como Peter se acertou com a Mary Jane e continua sendo o Homem-Aranha apesar da sua idade mais avançada ou como o Peter após perder a Gwen se tornou um Homem-Aranha mais vingativo e violento, são pequenos detalhes que trazem algumas respostas aos fãs sem parecer forçado. Inclusive essas pequenas lições acabam por ajudar o Peter do MCU mais à frente.

A luta final acontece na brega estátua da liberdade que está ganhando um escudo do Capitão América, propositalmente o herói dá sua localização para os vilões através do Jameson, para terminarem a missão de curar os vilões. O fato dos Peters ajudarem na criação das curas também rendem momentos engraçados e de autodescoberta de todos os personagens envolvidos. Apesar da cena de ação também ser bem-feita não é a melhor do filme, pois em alguns momentos tudo é muito escuro e fica difícil de se situar geograficamente, por isso os momentos de conversa entre os Aranhas chamaram mais a minha atenção. Apesar de serem a mesma “pessoa” a dificuldade de trabalharem juntos logo aparece, sendo contornada pela perspicácia do Homem-Aranha que já foi de uma equipe antes. Eles conseguem curar alguns dos vilões no processo, mas só vencem o poderoso Electro com a ajuda do Doutor Octopus. Aqui preciso ressaltar a cena da queda da M.J. e como o Andrew está entregando tudo de si, a redenção por conseguir salvar a garota da morte vem de forma brilhante. O Doutor Estranho retorna graças a imperícia de Ned com o anel dos portais, volta no exato momento que precisa para impedir que calamidades maiores aconteçam. A batalha que realmente importa é entre o Peter do MCU contra o Duende Verde, cada golpe neste momento travou o fôlego dos espectadores, claro que sabemos que tudo ali é CGI, entretanto não deixa de ser muito bem coreografados e com uma qualidade que salta aos olhos. Com a vingança como objeto de ambição, Peter parte para cima do vilão com tudo esquecendo completamente o plano. Ele consegue vencer o vilão e iria matar o Norman novamente com as lâminas do planador, porém é impedido pela sua variante, sendo de certo modo muito poético que o Peter de Tobey tenha sido o motivo do herói não sucumbir a vingança, como se a consciência do Peter estivesse de fato a sua frente. Eles terminam de curar os vilões, todavia o feitiço continua ativo trazendo mais variantes para este universo, a única opção do Peter permitir que o feitiço seja feito da forma correta, onde todos que sabiam sua identidade iriam se esquecer dela. É uma decisão difícil, contudo este novo Homem-Aranha entende sobre responsabilidade, ele diz que vai encontrar a M.J. e o Ned fazendo-os lembrar dele, um final bem emocionante segue após a despedida de Peter com os amigos.

Apesar da promessa, o herói decide manter distância quando vê o machucado na testa da namorada, ele sabe que se procurá-los novamente eles voltariam a ser alvos para seus inimigos. Muitos acham que não veremos a Zendaya e o Jacob Batalon de volta em seus papeis, estes personagens seriam enterrados para aparição de Harry Osborn e Gwen Stacy, contudo eu sou muito cético sobre isso. Apesar de ser provável que novos personagens apareçam na nova trilogia já confirmada, descartar dois atores tão promissores, sendo a Zendaya uma das grandes atrizes jovens da década é achar que a Marvel/Sony é idiota. A probabilidade de a atriz voltar no futuro é grande, inclusive temos uma dica em seus textos onde ela fala que descobriria novamente a identidade do herói, pois ela já o tinha feita antes e como acréscimo temos a M.J. usando o colar quebrado que ganhou do Peter no filme anterior, um detalhe sutil e muito significativo.

Quando entendemos o nome do filme entramos em prantos novamente, ele termina em uma casa alugada, tendo que ir para uma faculdade local e completamente sozinho nesse novo mundo que não se lembra do Peter Parker. Aquele Homem-Aranha que vai ter que lutar muito para conseguir seus objetivos, ele cria seu novo uniforme que está belíssimo numa cor mais viva, espero que eles mantenham também os detalhes dos olhos se moverem, sempre foi um detalhe que consegue dar mais expressividade ao personagem. Tudo é muito novo agora para o herói e mal vejo a hora de poder assistir a essa nova trilogia que o futuro guarda. No final temos um filme completo, com falhas tão insignificantes que simplesmente ignoramos, não é à toa que o filme já é a maior bilheteria de 2021 sem nem ter estreado na China, eu não acho exagero nenhum em dizer que apenas o maior herói da história poderia conseguir esse feito.